sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Quem é você?

Esta semana, durante um encontro com um amigo, filosofamos durante um bom tempo sobre o real significado daquilo que realmente somos.
Depois de um bom tempo, consegui limpar um monte de informações sobre a maneira como eu me descrevia, conseguindo enfim identificar aquilo que realmente é meu.
Acredite, parece simples, mas não é.
Parece que aquilo que somos, esta diretamente ligado aquilo que fazemos.
Porem, “ser” e “fazer” são coisas muito distintas.
Diante de um questionamento destes, nosso currículo impresso na memória dispara fazendo com que respostas imediatas saiam de nossas bocas como se estivéssemos querendo impressionar o mundo, ou melhor, impressionar a nós mesmos.
Será que é por isso que partimos tanto do “fazer”, tentando se convencer de que este somos nós de fato?
Claro que o “fazer” é importante, desde que tenhamos plena consciência do motivo pelo qual buscamos este “fazer”.
Porém, porque é que buscamos tanto o “fazer”? Para sermos algo? Para ser o que exatamente?
Começa aí um jogo perigoso onde nos aproximamos de uma consciência maior daquilo que buscamos, e que nem sempre é condizente com aquilo que acreditamos.
Mas a pergunta aqui é: Quem é você?
Será que somos advogados, psicanalistas, administradores, publicitários, etc, ou seria mais claro dizer que “estou psicanalista, estou advogado, estou publicitário, etc”?
Quando penso desta forma “estou psicanalista”, uma sensação de liberdade parece surgir, dando a possibilidade de que eu possa de fato “ser”, sem que precise criar uma cisão, dividindo o escritor do psicanalista, do empreendedor, etc.
Eu sou o Sergio, e estou escrevendo, atendendo, etc...agora.
Novamente a confusão entre o “fazer” e o “ser”.
Se colocarmos uma interrogação em nossas afirmações, a coisa fica ainda mais intrigante. Exemplo:
Eu sou psicanalista.
Eu sou psicanalista?
O que é ser psicanalista?
Descreva um psicanalista
R: Alguém que cuida do processo inconsciente, etc,... – Bom, acabamos de descrever a atividade do profissional psicanalista.
No entanto, poderia descrever o homem que esta naquele momento psicanalista.
Descrever o ser, o homem/mulher, nos liberta daquilo que fazemos, distinguindo aquilo que somos.
O homem/mulher esta psicanalista. Em outro momento, esta desenhista. Em outro momento, está escritor, etc.
Da uma sensação de liberdade onde podemos exercer aquilo que gostamos, fazemos, etc, preservando aquilo que realmente somos – um único ser.
Muitas vezes corremos atrás do “fazer”, buscando algo que amenize nossa angustia.
Não somos aquilo que fazemos. São coisas bem distintas.
Nossas atividades apontam para aquilo que necessitamos, mas não representam aquilo que de fato somos.
Um exemplo: Eu posso ter quinhentos MBA, buscando um destaque profissional, descobrindo um dia que esta busca foi somente para amenizar minha sensação de insegurança, um vazio.
A questão não é ter ou não MBA, mas é buscar a consciência do real motivo pelo qual buscamos tanto “fazer” em nossas vidas.
Ao mesmo tempo, nem todo “fazer” significa algo que aponte para uma insegurança.
Acontece que o “fazer’, esta diretamente ligado ao desejo de “ser” algo especial, quem sabe ter um grande falo que nos diga de fato que somos fortes, somos especiais, etc.
O desejo de “ser” demanda um grande “fazer”.
Nossas atitudes e realizações nos apontam para aquilo que desejamos, sendo bastante distinto daquilo que realmente somos.
Muitas figuras aparentemente poderosas, de fato revelaram-se pessoas inseguras e temerosas.
Depois de tanta filosofia com meu amigo, finalmente consegui dizer um pouco sobre minha pessoa, e entender um pouco sobre esta diferença, percebendo como deixamos esquecido em algum lugar de nossas mentes, a descrição daquilo que realmente somos.
O “fazer” parece ocultar nossa descrição e percepção daquilo que somos de fato.
Gostaria então de compartilhar com vocês, um breve currículo meu bastante diferente daqueles que sempre pensei em escrever.

Nome: Sergio

43 anos, casado, amante de filmes de aventura, adora ler, passear em livrarias, adora o bairro da liberdade por lembrar sua infância, nostálgico, dramático, cheio de medos, muitas vezes desejoso do colo da mãe, apaixonado por animais, pai de quatro gatinhos, apaixonado pela esposa, adora ultraman e ultraseven, ama de paixão toda saga dos filmes com Indiana Jones e Star Wars, adora escrever e conversar com pessoas, desenhar cenas de filmes, finais de semana, musica, cds do Pat Metheny, minha família de amigos, desenhos e animação, saudoso de amigos que vivem no exterior,  muitas vezes invejoso, odeia ser contrariado, adora ser o centro das atenções, etc.

Isso é quem eu sou.
Na minha descrição não existe passado, nem presente, nem futuro.
Isso está pronto.
Sou eu.
Poderia falar sobre o Sergio profissional, mas de fato, não interessa muito.
Quem é você?
Até mais ver

Um comentário:

  1. Sergião,
    Exite um fato interessante que na lingua inglesa não existe diferença entre ser e estar. O verbo em inglês é o mesmo: to be. Creio que nessa interpretação você é o que você está naquele momento. Não existe um ser estático e sim o dinamismo natural do ser humano de mudar, e então ser/estar algo diferente com o tempo. Acredito que existem algumas caracteríticas que levamos ao longo de nossa vida, tais como ser otimista, alegre, curioso. Se me pergunta quem realmente sou, descreveria-me com estes adjetivos. Mas mesmo estes ainda podem se apagar durante alguns momentos de nossas vidas.
    Quando estava voltando de férias no domingo, estava conversando com minha esposa que havia quebrado o pé e tinha preferência no embarque. Atrás dela estavam enfileiradas várias pessoas que tinham bilhetes para Business Class. Algumas delas faziam a maior força para mostrar que estavam na Business Class e por isto eram importantes. Na verdade naquele momento eles se sentem mais importantes pelo status. Lembrei me que muitas vezes quando viajava a trabalho também sentia a necessidade me sentir (ser) importante pois tinha um bilhete para Business Class. E apesar de ter feito o mesmo, agora achava aquilo engraçado. Algumas dificuldades que enfrentei me fizeram entender que várias coisas que achamos que somos são apenas ilusões temporárias.
    Se conseguimos dos despir de todas as questões materiais, embaixo de tudo aquilo encontraremos quem realmente somos. Algumas vezes na vida temos que fazer isto e algumas vezes somos obrigados a faze-lo. Mas quando começamos a recontruir as coisas baseado no que realmente somos, nos tornamos mais seguros e contentes.
    Excelente tópico para conversa. Grande abraço,
    Vinicius

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