"Em clínica psiquiátrica, o conceito de psicose é tomado a maioria das vezes numa extensão extremamente ampla, de maneira a abranger toda uma gama de doenças mentais, quer sejam manifestamente organogenéticas, quer sua etiologia permaneça problemática. Na psicanálise, o interesse incidiu, em primeiro lugar, nas afecções mais diretamente acessíveis à investigação analítica, e dentro deste campo mais restrito que o da psiquiatria, as principais distinções são as que se estabelecem entre as perversões, as neuroses e as psicoses. Neste último grupo, a psicanálise procurou definir diversas estruturas: paranóia e esquizofrenia, por um lado, e por outro a melancolia e a mania. Fundamentalmente, é uma perturbação primária da relação libidinal com a realidade que a teoria psicanalítica vê o denominador comum nas psicoses, onde a maioria dos sintomas manifestos são tentativas secundárias de restauração do laço objetal." (Laplanche e Pontalis – Dicionário de Psicanálise – Psicose – pg 390)
Para entendermos o psicótico, é importante relembrarmos sobre a posição esquizoparanóide de Melanie Klein, onde o ego utiliza a cisão como mecanismo de defesa para lidar com suas ansiedades, buscando dispersar seus impulsos destrutivos.
“Na primeira infância, surgem ansiedades que obrigam ao ego criar mecanismos de defesa específicos. Neste período se encontram pontos de fixação de distúrbios psicóticos”. – (Inveja e Gratidão – Melanie Klein - pg 20)
O nascimento representa a saída da plenitude, do nirvana. O mundo real se apresenta de forma grosseira e cruel, despertando sensações como o frio, a fome, bem como necessidades como urinar, defecar, etc. É preciso chorar para obter o alimento, ou anunciar suas necessidades, apontar dores, cólicas entre outros. Na percepção da dependência do outro para sobreviver, nasce a frustração. Essa experiência é sentida como causada por objetos externos. Impulsos destrutivos são dirigidos para este objeto externo, passando posteriormente para ataques sádicos ao corpo da mãe, enquanto parte destes impulsos permanece ligada à libido no interior do organismo.
Para Klein, as relações de objeto existem desde o inicio da vida, sendo o primeiro objeto o seio da mãe.
A primeira relação com o objeto implica em projeção e introjeção. As relações de objeto são moldadas pela interação entre os mecanismos de projeção e introjeção desde o inicio, bem como entre objetos e situações internas e externas. Esses processos participam na construção do ego, e do superego e preparam o terreno para o surgimento do complexo de Édipo na metade do primeiro ano de vida. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein - pg 21)
No entanto, da mesma forma que tais impulsos são projetados nestes objetos, imediatamente são introjetados novamente. Logo, estes objetos sentidos como mau (seio mau), passam a existir também no mundo interno.
Tais ataques a estes objetos faz surgir o medo de uma retaliação ou um contra ataque por parte destes, que passam a ser sentidos como persecutórios.
“A necessidade vital de lidar com a ansiedade força o ego arcaico a desenvolver mecanismos de defesas. O impulso destrutivo é parcialmente projetado para fora, e prende-se ao primeiro objeto externo, o seio da mãe. Outra porção deste impulso permanece ligado a libido no interior do organismo".
Porem, nenhum desses processos resolve o problema da perseguição e de ser destruído. Logo, sob a pressão dessa ameaça o ego tenta se despedaçar “. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein - pg 24)
O ego então faz uma cisão buscando como resultado a dispersão do impulso destrutivo.
Na cisão, este mundo interno ainda confuso, repleto de objeto introjetados é de certa forma organizado. De um lado, objetos maus, de outro objetos bons. O bebê então percebe o seio como bom (aquele que recebe amor e lhe protege), e seio mau (aquele que o persegue e é receptor de seus ataques sádicos). O mundo é divido entre bom e mau.
“O impulso destrutivo projetado para fora é vivenciado como agressão oral. Impulsos sádico- orais dirigidos ao seio da mãe. Depois vem os impulsos canibalescos com o início da dentição.
O bebê vai sugar e destruir o seio. Na sua fantasia, o seio mau é destruído, e o seio bom permanece inteiro. Esse seio bom interno é responsável pela construção do ego, e contrabalança os processos de cisão e dispersão. Winnicott descreveu este processo como a capacidade do bebê adaptar-se à realidade mediante a experiência obtida através do amor e carinho da mãe “. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein –Processo de cisão em relação ao objeto- 1946- nota de rodapé 10 – pg 25)
“A ansiedade e a frustração pode ameaçar a sensação que o bebê tem de ter dentro de sí um seio bom. Logo, o bebê pode sentir que seu objeto interno bom está também despedaçado, pois fica difícil manter a cisão entre objeto bom e mau. O ego não consegue cindir objeto interno e externo sem que ocorra uma cisão correspondente dentro dele. Quanto mais o sadismo prevalece no processo de incorporação do objeto mais este é sentido como estando em pedaços e mais o ego corre o risco de cindir-se aos fragmentos desse objeto internalizado.” ”. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein –Processo de cisão em relação ao objeto- 1946)
Assim, o processo de projeção e introjeção se torna um cíclico, presente em todo desenvolvimento do ser. Neste ponto, o meio ambiente terá sua parcela na introjeção de objetos bons ou maus, de acordo com a forma que este se apresentar. Um ambiente repleto de amor, atenção, carinho, etc., poderá ser sentido como objetos bons, aumentando o número de objetos bons internos. Do contrário, um ambiente violento, cheio de falhas materna, poderá ser sentido como objetos maus, igualmente aumentando o número destes objetos no interior do bebê.
O processo de cisão vem para organizar o que antes estava misturado. Agora, sentimentos bons são dirigidos ao objeto bom, enquanto ataques destrutivos dirigidos para os objetos maus.
Outros mecanismos de defesa são criados.
Através do processo de idealização, o objeto bom é exageradamente sentido como um protetor poderoso contra os objetos maus. Não se trata de um simples objeto bom. Agora, este objeto é MUITO bom. Na negação, a existência de um objeto mau é negada. Todas as sensações de frustração e dor são negadas. A realidade psíquica é negada. Na onipotência, o ser sente-se capaz de negar a própria realidade psíquica.
“A negação onipotente da existência do objeto mau e da situação de dor é, para o inconsciente, igual à aniquilação pelo impulso destrutivo”.
“Uma parte do ego, da qual emanam os sentimentos pelo objeto, é negada e aniquilada também”.
“Na gratificação alucinatória ocorrem dois processos inter-relacionados: a invocação onipotente do objeto e da situação de ideais e a onipotente aniquilação do objeto mau persecutório e da situação de dor; Esses processos se baseiam tanto na cisão do objeto como do ego”. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein – A cisão em conexão com a projeção e a identificação -pg 26)
Como vimos anteriormente, os ataques antes dirigidos ao seio da mãe passam a ser dirigidos para o corpo da mãe, já que seu corpo é percebido como uma extensão do seio.
Na sua fantasia, o bebê vai lançar para dentro do corpo da mãe excrementos nocivos e destrutivos, além de sugar o seio até exauri-lo. Partes excindidas do ego são projetadas para dentro da mãe. Estes excrementos terão como objetivo controlar e tomar possa do corpo desta. Uma vez contendo partes do self mau, a mãe agora é sentida como o próprio self mau. Passa a ser o self mau, sentido como objeto perseguidor.
Melanie Klein chamou este processo de identificação projetiva.
“Não são só as partes más do self a serem expelidas. Partes boas também. Logo, excrementos podem significar presentes, e as partes do ego projetadas para outra pessoa representam as partes boas, amorosas do self”.(Inveja e Gratidão – Melanie Klein – Identificação Projetiva -pg 27)
“A identificação projetiva da origem a medos de ser controlado pelo objeto; Uma vez na fantasia o bebê projetando parte de seu self para dentro do objeto com o objetivo de possuir e controlar, começa a ter medo da retaliação – ser controlado. Ser perseguido dentro de seu próprio corpo pelo objeto introjetado e reintrojetado violentamente. O objeto reintrojetado é sentido como contendo os aspectos perigosos do self”. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein – Identificação Projetiva -pg 30)
O medo de ser aprisionado e perseguido dentro do corpo da mãe (resultado da identificação projetiva) estão na base da paranóia.
“As relações esquizóides são de natureza narcísica. Eu projeto meu ideal do ego em outra pessoa. Passo a amar e admirar essa pessoa porque na verdade estou amando eu mesmo. Essa outra pessoa passa a ter as partes boas do meu self”. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein – Relações de objetos Esquizóides -pg 32)
Controlar o outro, é controlar seu próprio self projetado no objeto. Quando este objeto é perdido, é sentido como se o próprio self tivesse sido perdido. Surge o sentimento de solidão e o medo de separar-se do objeto.
“O medo da frustração da separação, desperta a agressividade. Uma vez controlando com agressividade as partes boas do self projetadas dentro do sujeito, o objeto interno é sentido como correndo o mesmo perigo de destruição que o objeto externo, resultando num enfraquecimento do ego. Solidão”. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein – Relações de objetos Esquizóides -pg 33)
Ainda sobre a identificação projetiva, Hanna Segal a define como:
(processo através do qual uma parte do ego é excindida e projetada para dentro de um objeto, com conseqüente perda desta parte para o ego, bem como alteração na percepção do objeto.) (Melanie Klein hoje; Vol I; Depressão no Esquizofrênico; Hanna Segal).
Através da identificação projetiva, o psicótico projeta suas ansiedades sentidas como algo insuportável.
Herbert Rosenfeld escreve em seu artigo “Conflito com o superego num paciente esquizofrênico”, a importância em se interpretar as transferências positivas e negativas, salientando que o êxito na análise depende da compreensão do analista das manifestações psicóticas na situação transferêncial.
Rosenfeld ainda em seu artigo desenvolve a idéia de que o objeto bom internalizado aumenta a severidade do superego, e devido a exigências rigorosas, é sentido como um objeto persecutório.
“Na análise de pacientes esquizofrênicos – Podemos muitas vezes observar apenas os objetos persecutórios funcionando como superego. Isso pode ser devido às exigências extremas dos objetos idealizados. (Melanie Klein hoje Vol I – Herbert Rosenfeld – Conflito com o superego num paciente esquizofrênico)”.
O psicótico toma muitas vezes tudo o que o analista diz como algo concreto. Se interpretarmos uma phantasia de castração, ele tomará a própria interpretação como uma castração. Trata muitas vezes a fantasia como realidade, e realidade como fantasia.
Quando projetado suas ansiedades para dentro de um objeto externo, via identificação projetiva, tal objeto passa a ser percebido como persecutório. Entretanto, ocorrerá uma introjeção deste objeto, sentido como uma reentrada violenta. Muitas vezes, o psicótico tentará romper a ligação com o mundo externo, temendo esta reentrada. No entanto, a introjeção deste objeto implica na existência deste tanto interno quanto externo. O objeto persecutório passa a existir na fantasia e na realidade.
“Todo paciente esquizo projeta seu superego e a si mesmo para dentro do analista; mas o analista interpreta esta situação e os problemas ligados a ela até que, gradativamente, o paciente seja capaz de aceitar tanto seu amor e seu ódio quanto o seu superego como coisas que lhe pertencem.” (Melanie Klein hoje Vol I – Herbert Rosenfeld – Conflito com o superego num paciente esquizofrênico)
Freud aponta a psicose como o ego a serviço do id, que se retira em parte da realidade. Sobre este tópico, Bion escreve: “O ego não fica completamente fora da realidade. Seu contato com a realidade é mascarado pelo predomínio, na mente e no comportamento do paciente, de uma fantasia onipotente cujo propósito é o de destruir não só a realidade mas a percepção dela, e assim atingir um estado que não é vida nem morte”.(Melanie Klein hoje Vol I – Herbert Rosenfeld – Diferenciação entre a personalidade psicótica e a não psicótica)
Segundo Bion, pacientes psicóticos possuem uma parte não psicótica da personalidade, que fica assim obscurecida por sua parte psicótica.
O afastamento da realidade é uma ilusão decorrente do uso da identificação projetiva contra o principio da realidade. Porém, esta fantasia torna-se um fato para o psicótico. A realidade odiada é fragmentada e projetada para fora. Estes objetos expelidos são sentidos como se tivesse vida própria, estando então o psicótico cercado por objetos bizarros.
A cisão e a identificação projetiva visa o afastamento da própria realidade. As palavras são tomadas como coisas reais, pois o psicótico não simboliza.
Hanna Segal escreve em seu artigo “Depressão no esquizofrênico – Melanie Klein hoje vol.1” sobre o processo pelo qual o esquizofrênico alcança a posição depressiva, vivenciando as ansiedades despertas durante este processo. No entanto, os sentimentos de culpa, sofrimento, são sentidos como intoleráveis. Assim, tais ansiedades depressivas serão projetadas para fora, ou seja, grande parte do seu ego será projetada para dentro de outro objeto através da identificação projetiva. Assim, o avanço para a posição depressiva no paciente esquizofrênico é sentido como uma ameaça. É preciso retomar o percurso contrário da sanidade, pois esta é acompanhada por sentimentos insuportáveis.
É comum o paciente psicótico projetar a parte deprimida do ego para dentro do analista, provocando sentimentos depressivos no analista. A parte sadia do ego é perdida, e neste caso, o analista torna-se objeto persecutório.
Hanna Segal aponta para a importância de colocar o paciente esquizofrênico em contato com seus sentimentos depressivos, e com o desejo de reparação que dele originam. É de suma importância que o analista descubra onde e em quais circunstâncias a parte depressiva do ego foi projetada, interpretando para seu paciente.
A identificação projetiva por um lado, constitui uma reação terapêutica negativa (RTN), cabendo ao analista acompanhar cuidadosamente durante a transferência, a emergência da posição depressiva e sua projeção, permitindo assim ao paciente fortalecer a parte sadia da personalidade. Por outro lado, a identificação projetiva é uma defesa contra a depressão.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
A criação de simbolos e a neurose obsessiva
Podemos entender por aparelho psíquico a expressão que ressalta certas características que a teoria freudiana atribui ao psiquismo: a sua capacidade de transmitir e de transformar uma energia determinada e a sua diferenciação em sistemas ou instâncias. (Laplanche e Pontalis – Dicionário de Psicanálise – pág 29) Em última análise, a função do aparelho psíquico é manter ao nível mais baixo possível a energia interna de um organismo. (Laplanche e Pontalis – Dicionário de Psicanálise – pág 30).
Para W.R Bion, um dos mais importantes psicanalistas, o aparelho psíquico se resume da seguinte forma: soma (conjunto das partes que constitui um todo) psique, e o vínculo que os liga. Parte da análise Bioniana será baseada na forma como meu corpo se liga à minha mente e vice-versa. Um vínculo se forma ligando ambas as partes.
Exemplo: A criança sente fome; A mãe lhe dá o seio; A imagem deste seio é a psique. É formado então um primeiro vinculo, ou como Freud nomeou, Representações de coisas.
(consiste num investimento, se não de imagens mnésicas diretas da coisa, pelo menos nos traços mnésicos mais afastados, derivados dela - Laplanche e Pontalis – Dicionário de Psicanálise – pág 450).
Assim, um vinculo é criado entre a necessidade de comer com a imagem do seio. Os vínculos que vão se criando formam a base da psique (aparelho psíquico como um todo).
É importante entendermos o conceito de vínculo para Bion: designa uma experiência emocional na qual duas pessoas, ou duas partes de uma mesma pessoa estão relacionadas uma com a outra. Bion considera que três emoções básicas são fatores sempre presentes em qualquer vínculo: as de amor (L), as de ódio (H) e conhecimento (K). (David Zimermam – Bion da teoria à prática – pág 102).
Para Bion, o vinculo entre mãe e bebê não pode ser descrito somente em termos de amor e ódio. É necessário ter um terceiro tipo de vinculo que é o desejo da mãe em compreender o seu bebê (K).
Entre as sensações corpóreas também vão se criando vínculos. Citando o mesmo exemplo anterior da criança sentir fome, cria-se um vínculo entre comer e defecar. Desta forma, cria-se uma espécie de rede formada por diversos vínculos que vão se desdobrando, conectados através da experiência vivida. Exemplo: o sentir fome faz com que o indivíduo busque o alimento, que uma vez ingerido e saciado seu desejo e necessidade vai fazer mais tarde, com que sinta necessidade de defecar, etc.
Sem a experiência, é impossível realizar as conexões, e é graças à psique que entendemos essas experiências corpóreas. Enquanto o soma entende ponto a ponto (comer – defecar), a psique junta estes pontos permitindo uma compreensão entre estes pontos.
Assim, o que liga seio à fome é a função vincular. Num primeiro estágio, cria a representação de coisas (seio, comida, etc), passando para um segundo estágio onde estas representações de coisas são juntadas (seio sacia a fome). Para D.W. Winnicott, ao nascer o self é desintegrado. Aos poucos, os objetos vão se integrando, e por detrás de cada objeto, segundo Bion, existe um vínculo.
No esquizofrênico, a capacidade vincular é extremamente prejudicada.
Podemos entender por Phantasia, o conjunto de representações de coisas (conjunto de conexões), que vão criando vínculos na medida em que vão se combinando (seio – fome). Porém, os vínculos se formam a partir da experiência proporcionada pela mãe (holding), e acabam formando a psique. A forma como estes vínculos vão se juntando é o que Melanie Klein denominou de posição.
O desejo de voltar para o estado uterino, faz com que primeiramente o organismo tente jogar seus objetos para fora. Nascer é ruim; Sentir fome, sede, necessidade de defecar, etc, estão longe da plenitude antes vivida no útero. É preciso lança-los para fora buscando o retorno à plenitude. Através da projeção o bebê os lança em direção ao mundo externo (em algo ou alguém), tentando controlá-los através de mecanismos de defesa como a onipotência. Porém, o meio ambiente faz com que estes objetos retornem (introjeção), criando assim um ciclo de projeção e introjeção. É preciso então separar objetos maus e bons para se obter uma certa ordem interna. Onipotentemente, o bebê realiza esta separação, ou seja, faz uma cisão. Agora, o mundo e seus objetos são bons ou maus. Melanie Klein definiu este período do desenvolvimento de posição esquizoparanóide. Os objetos maus serão lançados novamente para fora, e através da identificação, o bebê vai incorporar os objetos bons, tornando-se o próprio objeto bom.
Lembrando que objetos bons e maus são projetados e introjetados, sendo a experiência no mundo real, o holding materno, o amor, etc, fatores fundamentais para que este mundo interno seja constituído mais de objetos bons do que maus.
Num segundo estádio, com seu self mais integrado, o bebê agora percebe o objeto como único. A figura da mãe é percebida como única. Os objetos são únicos. Logo, entende que o objeto mau é o mesmo objeto bom. Surge então a culpa por ter em sua phantasia atacado e destruído aquele objeto anterior mau, que pode agora ser entendido também como objeto bom. Melanie Klein nomeou este estágio de posição depressiva. A dor da perda, a culpa, a gratidão, levam então o ser para um novo estádio, onde o bebê começa a assumir sua parcela de responsabilidade diante dos fatos bons e ruins.
Podemos agora exemplificar a psique como uma espécie de moeda que contêm a soma de todos os objetos bons e maus. Posição depressiva pode ser entendido como o vinculo que se forma entre a psique, e todos os outros objetos. Quando tudo é juntado em uma mesma “moeda”, é criado um símbolo.
Os símbolos permitem que um todo seja reconhecido nas partes fragmentadas e dispersas, e que, a partir de um todo, se venham a descobrir as partes.O símbolo é a unidade perdida e refeita, porém esse reencontro unificador não deve se dar nos moldes originais, mas sim no reencontro de um mesmo com um diferente, visto que, na situação psicanalítica, simbolizar consiste em captar o sentido em um outro nível, a partir de um outro vértice. (David Zimermam – Bion da teoria a pratica – cap 13 – pg 159)
A capacidade de suportar perdas esta associada à posição depressiva, ou seja, é essencial que a criança para suportar perdas e frustrações, tenha feito a passagem da posição esquizoparanóide para a posição depressiva.
A capacidade de criar símbolos depende da capacidade do ego de suportar perdas e substituí-las por símbolos. (David Zimermam – Bion da teoria a pratica – cap 13 – pg 159)
Bion, ao estudar os processos criativos inerentes aos do conhecimento, vem discordar de que estes tenham um movimento único, progressivo da posição esquizoparanóide para a depressiva. O processo criativo consiste em um movimento alternativo, alterando-se de um lado a outro por entre as posições de Klein. Todos nós possuímos um núcleo neurótico e psicótico. Estaremos eternamente flutuando entre as duas posições Kleinianas, nos sentindo em um momento, perseguidos por um objeto mau, vitimas de ataques, etc, passando em outro momento a nos sentirmos culpados por desfazer ataques, gratos pelo amor recebido, etc. Assim, o ser revive o ciclo das posições – jogar fora objetos maus, ficando com os bons (posição esquizoparanóide), passando para a posição depressiva;
Após a posição depressiva, surge o que Winnicott denominou de objeto transicional (algo entre a phantasia e a realidade).
Objeto Transicional- Surge para o bebe uma bola de lã, um boneco, um cobertor, uma melodia, etc – algum objeto que diminua sua ansiedade, principalmente sua ansiedade depressiva. Algo que simbolize a mãe “boa”; Algo que nunca “falte”. (D.W.Winnicott - O brincar e a realidade)
Por realidade compartilhada, entende-se a capacidade de ambos entenderem o valor do objeto, sendo o objeto transicional aquele que chega na realidade compartilhada, resultando na comunicação entre as pessoas.
Por empatia, entendemos a capacidade de perceber a identificação projetiva que o outro está fazendo das representações de coisas. Principio básico da contratransferência.
Na análise, deve-se interpretar e informar ao analisando sobre suas transferências. Como resultado, espera-se que o analisando obtenha insights e elaborações, posicionando-se diante de velhas situações e angustias, sob uma nova óptica.
Aquilo que interpretamos, nada mais é do que o desejo da realização de uma phantasia, e o processo de elaboração pressupõem a perda desta phantasia.
Vivemos em torno de um grande dilema – o desejo da realização de nossas phantasias, versus a realidade. Nossa mente (forma racional de trabalho do aparelho psíquico),também chamada pela filosofia de razão, pode ser utilizada estrategicamente para resolver este dilema. A mente pode ser usada para buscar a verdade, bem como para encobri-la, buscando na mentira um falso caminho para a realização dos desejos phantasiosos. Segundo Bion, a razão é utilizada na maioria das vezes para falsear ao invés de falar a verdade, aliada aos mecanismos de defesa diversos.
A mente é utilizada para que o indivíduo se mantenha na phantasia, afastado da realidade dura. Logo, como analista, é necessário que eu descubra qual é a função da mente do analisando, ou seja, como ela trabalhando a favor dos desejos do mesmo.
Segundo Melanie Klein, o neurótico obsessivo se utiliza à razão precocemente a serviço de suas phantasias. Dentro da visão Kleiniana, toda problemática do ser gira em torno da pulsão de morte. Assim, a mente serve para controlar esta pulsão, servindo de solução para a pulsão de morte.
No neurótico obsessivo, a mente trabalha de forma dissociada. Ego forte = ego que assegura plenamente o exercício das pulsões modificadas e controladas por ele, de um modo compatível com as exigências da realidade exterior. É forte o ego que pode, sem maior desordem, fazer frente às demandas atuais e normalmente previsíveis da realidade exterior.
Os mecanismos neuróticos servem para apaziguar os impulsos destrutivos e violentos. Logo, a neurose é uma defesa contra tais impulsos psicóticos. Utilizando mecanismos neuróticos, o ego tenta através da neurose solucionar o problema da angustia.
Neurose Obsessiva é uma tentativa depressiva de dar conta das questões que angustiam. Como característica, os neuróticos obsessivos utilizam um critério racional para resolver a síntese entre o bom e mau. Cria um mito, e passando a crer na sua verdade daquilo que é bom e mau.
Na neurose obsessiva, a razão é utilizada para dissociar, transformando uma determinada ansiedade, em algo suportável, idealizando, dissociando, etc. Afastar o mau é sua estratégia principal. A razão é utilizada para banir o mau.
A neurose é uma relação masoquista por parte do ego – para manter-se em equilíbrio com o superego, rompendo suas relações libidinais, o ego se submete a uma serie de expiações. No final, todo o jogo de defesa e agressões acabam se voltando contra ele mesmo. As defesas também são lembretes em relação aos seus temores. Assim, todo tempo o ego é lembrado do objeto temido. Se por um lado o ritual espanta o mal, também vive lembrando que este existe. Logo, o ritual reforça o mal ao mesmo tempo em que o espanta.
Na neurose obsessiva, a mente vai se unir a um superego muito forte, amplificando e reforçando seus critérios. Criando uma ilusão de óptica, não se pode distinguir a fonte destes critérios, não sendo possível precisar sua origem é proveniente do superego. Criação e criador se fundem. Critérios de uma cultura, civilização, família, já estão contidos no superego.
A sociedade cria teorias para justificar seus critérios que são pré-existentes.
Para W.R Bion, um dos mais importantes psicanalistas, o aparelho psíquico se resume da seguinte forma: soma (conjunto das partes que constitui um todo) psique, e o vínculo que os liga. Parte da análise Bioniana será baseada na forma como meu corpo se liga à minha mente e vice-versa. Um vínculo se forma ligando ambas as partes.
Exemplo: A criança sente fome; A mãe lhe dá o seio; A imagem deste seio é a psique. É formado então um primeiro vinculo, ou como Freud nomeou, Representações de coisas.
(consiste num investimento, se não de imagens mnésicas diretas da coisa, pelo menos nos traços mnésicos mais afastados, derivados dela - Laplanche e Pontalis – Dicionário de Psicanálise – pág 450).
Assim, um vinculo é criado entre a necessidade de comer com a imagem do seio. Os vínculos que vão se criando formam a base da psique (aparelho psíquico como um todo).
É importante entendermos o conceito de vínculo para Bion: designa uma experiência emocional na qual duas pessoas, ou duas partes de uma mesma pessoa estão relacionadas uma com a outra. Bion considera que três emoções básicas são fatores sempre presentes em qualquer vínculo: as de amor (L), as de ódio (H) e conhecimento (K). (David Zimermam – Bion da teoria à prática – pág 102).
Para Bion, o vinculo entre mãe e bebê não pode ser descrito somente em termos de amor e ódio. É necessário ter um terceiro tipo de vinculo que é o desejo da mãe em compreender o seu bebê (K).
Entre as sensações corpóreas também vão se criando vínculos. Citando o mesmo exemplo anterior da criança sentir fome, cria-se um vínculo entre comer e defecar. Desta forma, cria-se uma espécie de rede formada por diversos vínculos que vão se desdobrando, conectados através da experiência vivida. Exemplo: o sentir fome faz com que o indivíduo busque o alimento, que uma vez ingerido e saciado seu desejo e necessidade vai fazer mais tarde, com que sinta necessidade de defecar, etc.
Sem a experiência, é impossível realizar as conexões, e é graças à psique que entendemos essas experiências corpóreas. Enquanto o soma entende ponto a ponto (comer – defecar), a psique junta estes pontos permitindo uma compreensão entre estes pontos.
Assim, o que liga seio à fome é a função vincular. Num primeiro estágio, cria a representação de coisas (seio, comida, etc), passando para um segundo estágio onde estas representações de coisas são juntadas (seio sacia a fome). Para D.W. Winnicott, ao nascer o self é desintegrado. Aos poucos, os objetos vão se integrando, e por detrás de cada objeto, segundo Bion, existe um vínculo.
No esquizofrênico, a capacidade vincular é extremamente prejudicada.
Podemos entender por Phantasia, o conjunto de representações de coisas (conjunto de conexões), que vão criando vínculos na medida em que vão se combinando (seio – fome). Porém, os vínculos se formam a partir da experiência proporcionada pela mãe (holding), e acabam formando a psique. A forma como estes vínculos vão se juntando é o que Melanie Klein denominou de posição.
O desejo de voltar para o estado uterino, faz com que primeiramente o organismo tente jogar seus objetos para fora. Nascer é ruim; Sentir fome, sede, necessidade de defecar, etc, estão longe da plenitude antes vivida no útero. É preciso lança-los para fora buscando o retorno à plenitude. Através da projeção o bebê os lança em direção ao mundo externo (em algo ou alguém), tentando controlá-los através de mecanismos de defesa como a onipotência. Porém, o meio ambiente faz com que estes objetos retornem (introjeção), criando assim um ciclo de projeção e introjeção. É preciso então separar objetos maus e bons para se obter uma certa ordem interna. Onipotentemente, o bebê realiza esta separação, ou seja, faz uma cisão. Agora, o mundo e seus objetos são bons ou maus. Melanie Klein definiu este período do desenvolvimento de posição esquizoparanóide. Os objetos maus serão lançados novamente para fora, e através da identificação, o bebê vai incorporar os objetos bons, tornando-se o próprio objeto bom.
Lembrando que objetos bons e maus são projetados e introjetados, sendo a experiência no mundo real, o holding materno, o amor, etc, fatores fundamentais para que este mundo interno seja constituído mais de objetos bons do que maus.
Num segundo estádio, com seu self mais integrado, o bebê agora percebe o objeto como único. A figura da mãe é percebida como única. Os objetos são únicos. Logo, entende que o objeto mau é o mesmo objeto bom. Surge então a culpa por ter em sua phantasia atacado e destruído aquele objeto anterior mau, que pode agora ser entendido também como objeto bom. Melanie Klein nomeou este estágio de posição depressiva. A dor da perda, a culpa, a gratidão, levam então o ser para um novo estádio, onde o bebê começa a assumir sua parcela de responsabilidade diante dos fatos bons e ruins.
Podemos agora exemplificar a psique como uma espécie de moeda que contêm a soma de todos os objetos bons e maus. Posição depressiva pode ser entendido como o vinculo que se forma entre a psique, e todos os outros objetos. Quando tudo é juntado em uma mesma “moeda”, é criado um símbolo.
Os símbolos permitem que um todo seja reconhecido nas partes fragmentadas e dispersas, e que, a partir de um todo, se venham a descobrir as partes.O símbolo é a unidade perdida e refeita, porém esse reencontro unificador não deve se dar nos moldes originais, mas sim no reencontro de um mesmo com um diferente, visto que, na situação psicanalítica, simbolizar consiste em captar o sentido em um outro nível, a partir de um outro vértice. (David Zimermam – Bion da teoria a pratica – cap 13 – pg 159)
A capacidade de suportar perdas esta associada à posição depressiva, ou seja, é essencial que a criança para suportar perdas e frustrações, tenha feito a passagem da posição esquizoparanóide para a posição depressiva.
A capacidade de criar símbolos depende da capacidade do ego de suportar perdas e substituí-las por símbolos. (David Zimermam – Bion da teoria a pratica – cap 13 – pg 159)
Bion, ao estudar os processos criativos inerentes aos do conhecimento, vem discordar de que estes tenham um movimento único, progressivo da posição esquizoparanóide para a depressiva. O processo criativo consiste em um movimento alternativo, alterando-se de um lado a outro por entre as posições de Klein. Todos nós possuímos um núcleo neurótico e psicótico. Estaremos eternamente flutuando entre as duas posições Kleinianas, nos sentindo em um momento, perseguidos por um objeto mau, vitimas de ataques, etc, passando em outro momento a nos sentirmos culpados por desfazer ataques, gratos pelo amor recebido, etc. Assim, o ser revive o ciclo das posições – jogar fora objetos maus, ficando com os bons (posição esquizoparanóide), passando para a posição depressiva;
Após a posição depressiva, surge o que Winnicott denominou de objeto transicional (algo entre a phantasia e a realidade).
Objeto Transicional- Surge para o bebe uma bola de lã, um boneco, um cobertor, uma melodia, etc – algum objeto que diminua sua ansiedade, principalmente sua ansiedade depressiva. Algo que simbolize a mãe “boa”; Algo que nunca “falte”. (D.W.Winnicott - O brincar e a realidade)
Por realidade compartilhada, entende-se a capacidade de ambos entenderem o valor do objeto, sendo o objeto transicional aquele que chega na realidade compartilhada, resultando na comunicação entre as pessoas.
Por empatia, entendemos a capacidade de perceber a identificação projetiva que o outro está fazendo das representações de coisas. Principio básico da contratransferência.
Na análise, deve-se interpretar e informar ao analisando sobre suas transferências. Como resultado, espera-se que o analisando obtenha insights e elaborações, posicionando-se diante de velhas situações e angustias, sob uma nova óptica.
Aquilo que interpretamos, nada mais é do que o desejo da realização de uma phantasia, e o processo de elaboração pressupõem a perda desta phantasia.
Vivemos em torno de um grande dilema – o desejo da realização de nossas phantasias, versus a realidade. Nossa mente (forma racional de trabalho do aparelho psíquico),também chamada pela filosofia de razão, pode ser utilizada estrategicamente para resolver este dilema. A mente pode ser usada para buscar a verdade, bem como para encobri-la, buscando na mentira um falso caminho para a realização dos desejos phantasiosos. Segundo Bion, a razão é utilizada na maioria das vezes para falsear ao invés de falar a verdade, aliada aos mecanismos de defesa diversos.
A mente é utilizada para que o indivíduo se mantenha na phantasia, afastado da realidade dura. Logo, como analista, é necessário que eu descubra qual é a função da mente do analisando, ou seja, como ela trabalhando a favor dos desejos do mesmo.
Segundo Melanie Klein, o neurótico obsessivo se utiliza à razão precocemente a serviço de suas phantasias. Dentro da visão Kleiniana, toda problemática do ser gira em torno da pulsão de morte. Assim, a mente serve para controlar esta pulsão, servindo de solução para a pulsão de morte.
No neurótico obsessivo, a mente trabalha de forma dissociada. Ego forte = ego que assegura plenamente o exercício das pulsões modificadas e controladas por ele, de um modo compatível com as exigências da realidade exterior. É forte o ego que pode, sem maior desordem, fazer frente às demandas atuais e normalmente previsíveis da realidade exterior.
Os mecanismos neuróticos servem para apaziguar os impulsos destrutivos e violentos. Logo, a neurose é uma defesa contra tais impulsos psicóticos. Utilizando mecanismos neuróticos, o ego tenta através da neurose solucionar o problema da angustia.
Neurose Obsessiva é uma tentativa depressiva de dar conta das questões que angustiam. Como característica, os neuróticos obsessivos utilizam um critério racional para resolver a síntese entre o bom e mau. Cria um mito, e passando a crer na sua verdade daquilo que é bom e mau.
Na neurose obsessiva, a razão é utilizada para dissociar, transformando uma determinada ansiedade, em algo suportável, idealizando, dissociando, etc. Afastar o mau é sua estratégia principal. A razão é utilizada para banir o mau.
A neurose é uma relação masoquista por parte do ego – para manter-se em equilíbrio com o superego, rompendo suas relações libidinais, o ego se submete a uma serie de expiações. No final, todo o jogo de defesa e agressões acabam se voltando contra ele mesmo. As defesas também são lembretes em relação aos seus temores. Assim, todo tempo o ego é lembrado do objeto temido. Se por um lado o ritual espanta o mal, também vive lembrando que este existe. Logo, o ritual reforça o mal ao mesmo tempo em que o espanta.
Na neurose obsessiva, a mente vai se unir a um superego muito forte, amplificando e reforçando seus critérios. Criando uma ilusão de óptica, não se pode distinguir a fonte destes critérios, não sendo possível precisar sua origem é proveniente do superego. Criação e criador se fundem. Critérios de uma cultura, civilização, família, já estão contidos no superego.
A sociedade cria teorias para justificar seus critérios que são pré-existentes.
Histeria e relações de objeto
"Classe de neuroses que apresentam quadros clínicos muito variados. As duas formas sintomáticas mais bem identificadas são a histeria de conversão, em que o conflito psíquico vem simbolizar-se nos sintomas corporais mais diversos, paroxísticos ou mais duradouros, e a histeria de angustia, em que a angustia é fixada de modo mais ou menos estável neste ou naquele objeto exterior (fobias). Pretende-se encontrar a especificidade da histeria na predominância de um certo tipo de identificação e de certos mecanismos (particularmente o recalque, muitas vezes manifesto), e no aflorar do conflito edipiano que se desenrola principalmente nos registros libidinais fálico e oral”. – Laplanche e Pontalis – pg 211 – Vocabulário de Psicanálise.
O histérico testemunha um intenso amor materno por parte de sua mãe, porém, inconscientemente, existe uma recusa por parte do self materno do desejo pelo corpo sexual do bebê. Os genitais causam repulsa e estranheza nesta mãe que pretende ver em seu filho, somente uma espécie de ser assexuado. Na identificação posterior, o histérico(a) vai buscar seu significado para sua mãe, representando então aquilo que acredita ser o desejo da mãe.
Na época em que ocorre a epifânia sexual, onde a criança descobre que o mundo é constituído por objetos sexuais a partir de seus impulsos libidinais, enquanto para a criança não histérica sua mãe passa a ser vista não mais como objeto materno, mas principalmente como objeto de desejo, para a criança histérica a sexualidade torna-se uma ameaça diante da relação mãe-bebê. O histérico vai dessexualizar sua mãe, persistindo na idéia original do desejo materno. O pai torna-se o grande vilão no período edípico. Aquele que ameaça esta relação perfeita de conto de fadas, onde somente existe uma espécie de pureza histérica. Posteriormente, a criança histérica aceitara o pai, na medida em que é impossível não aceita-lo, já que este é de fato o marido de sua mãe, porém, criará a imagem de um pai igualmente dessexualizado.
O histérico irá lutar para preservar a criança inocente, opondo-se ao crescimento do self, criando a imagem de uma mãe “Madona”, e tornando-se o garotinho(a) perfeito(a), atendendo assim ao desejo do outro. Este outro, sua mãe ideal, repudia por completo a sexualidade e deseja seu garotinho(a) eterno. Logo, na phantasia histérica, o ser vive representando este papel. Ocorre uma espécie de substituição da satisfação sexual pela satisfação sagrada, santificada. O gozo é algo que eleva seu espírito ao céu. Cristopher Bollas em seu livro “Hysteria” descreve que “Fazer amor para o histérico implica em uma troca do corpo pela alma”. Ainda em seu livro “Hysteria”, Bollas descreve: “Amor do histérico é a preocupação auto-erótica projetada no outro, e logo, que esse outro se destaca da figura ideal na mente, vem a decepção.Não compartilha conhecimento erótico – o outro é uma figura com quem se masturba. Buscam nas preliminares a finalidade da sexualidade. Sua satisfação esta ligada a frustração e desistência”.
O corpo passa a ser um objeto erótico do histérico. Sua satisfação sexual esta nas preliminares, uma vez que sua mãe repudiou seu órgão genital e de certa forma distribuiu este desejo sexual para outras partes do corpo. O cuidado excessivo com o corpo pode representar a construção deste personagem auto-erótico, que seduz, eleva-se aos céus como ser puro e mantém sua relação infantil representando o personagem criado pelo desejo de sua mãe.
David Zimerman descreve algumas características clínicas do histérico: “Existência de uma mãe histerogênica - próxima e distante, dedicada e indiferente; Usa a criança como uma vitrine sua para se exibir aos outros; Projeta nos filhos sua própria estrutura histérica. Meninos: as mães são sedutoras; desenvolvem um clima de expectativas narcisistas Meninas: Pai sedutor e frustrador ao mesmo tempo; Ansiedades existentes: angustia de castração; cair em um estado de desamparo; baixa auto-estima; medo da perda do amor dos pais ambíguos entre outra”.(David Zimerman – Histeria – Manual de técnica Psicanalítica)
J.D.Nasio define histeria como um desejo sexual infantil vivido na cabeça de um adulto e cujo objeto não é um homem ou uma mulher, mas uma criatura forte ou fraca. O histérico vive seu parceiro como uma criatura castrada e onipotente, e não como um homem e mulher.Complementa dizendo que a histeria sofrida por um adulto foi provocada outrora por um violento abalo ocorrido em sua sexualidade de criança. ( J-D Nasio – Édipo)
Para o histérico, o mundo é cruel, privando-o das coisas boas. Assim, coloca-se sempre na posição de vitima e mártir. Seu objeto bom está internalizado. O mundo externo contém os objetos maus. em seu livro “Édipo”, J-D Nasio define Falo para a mulher como “medo de deixar de ser amada’. O histérico resolve esta questão representando seu personagem assexuado, como uma criança pura e perfeita, obtendo assim o amor eterno de sua mãe “madona’.
O histérico testemunha um intenso amor materno por parte de sua mãe, porém, inconscientemente, existe uma recusa por parte do self materno do desejo pelo corpo sexual do bebê. Os genitais causam repulsa e estranheza nesta mãe que pretende ver em seu filho, somente uma espécie de ser assexuado. Na identificação posterior, o histérico(a) vai buscar seu significado para sua mãe, representando então aquilo que acredita ser o desejo da mãe.
Na época em que ocorre a epifânia sexual, onde a criança descobre que o mundo é constituído por objetos sexuais a partir de seus impulsos libidinais, enquanto para a criança não histérica sua mãe passa a ser vista não mais como objeto materno, mas principalmente como objeto de desejo, para a criança histérica a sexualidade torna-se uma ameaça diante da relação mãe-bebê. O histérico vai dessexualizar sua mãe, persistindo na idéia original do desejo materno. O pai torna-se o grande vilão no período edípico. Aquele que ameaça esta relação perfeita de conto de fadas, onde somente existe uma espécie de pureza histérica. Posteriormente, a criança histérica aceitara o pai, na medida em que é impossível não aceita-lo, já que este é de fato o marido de sua mãe, porém, criará a imagem de um pai igualmente dessexualizado.
O histérico irá lutar para preservar a criança inocente, opondo-se ao crescimento do self, criando a imagem de uma mãe “Madona”, e tornando-se o garotinho(a) perfeito(a), atendendo assim ao desejo do outro. Este outro, sua mãe ideal, repudia por completo a sexualidade e deseja seu garotinho(a) eterno. Logo, na phantasia histérica, o ser vive representando este papel. Ocorre uma espécie de substituição da satisfação sexual pela satisfação sagrada, santificada. O gozo é algo que eleva seu espírito ao céu. Cristopher Bollas em seu livro “Hysteria” descreve que “Fazer amor para o histérico implica em uma troca do corpo pela alma”. Ainda em seu livro “Hysteria”, Bollas descreve: “Amor do histérico é a preocupação auto-erótica projetada no outro, e logo, que esse outro se destaca da figura ideal na mente, vem a decepção.Não compartilha conhecimento erótico – o outro é uma figura com quem se masturba. Buscam nas preliminares a finalidade da sexualidade. Sua satisfação esta ligada a frustração e desistência”.
O corpo passa a ser um objeto erótico do histérico. Sua satisfação sexual esta nas preliminares, uma vez que sua mãe repudiou seu órgão genital e de certa forma distribuiu este desejo sexual para outras partes do corpo. O cuidado excessivo com o corpo pode representar a construção deste personagem auto-erótico, que seduz, eleva-se aos céus como ser puro e mantém sua relação infantil representando o personagem criado pelo desejo de sua mãe.
David Zimerman descreve algumas características clínicas do histérico: “Existência de uma mãe histerogênica - próxima e distante, dedicada e indiferente; Usa a criança como uma vitrine sua para se exibir aos outros; Projeta nos filhos sua própria estrutura histérica. Meninos: as mães são sedutoras; desenvolvem um clima de expectativas narcisistas Meninas: Pai sedutor e frustrador ao mesmo tempo; Ansiedades existentes: angustia de castração; cair em um estado de desamparo; baixa auto-estima; medo da perda do amor dos pais ambíguos entre outra”.(David Zimerman – Histeria – Manual de técnica Psicanalítica)
J.D.Nasio define histeria como um desejo sexual infantil vivido na cabeça de um adulto e cujo objeto não é um homem ou uma mulher, mas uma criatura forte ou fraca. O histérico vive seu parceiro como uma criatura castrada e onipotente, e não como um homem e mulher.Complementa dizendo que a histeria sofrida por um adulto foi provocada outrora por um violento abalo ocorrido em sua sexualidade de criança. ( J-D Nasio – Édipo)
Para o histérico, o mundo é cruel, privando-o das coisas boas. Assim, coloca-se sempre na posição de vitima e mártir. Seu objeto bom está internalizado. O mundo externo contém os objetos maus. em seu livro “Édipo”, J-D Nasio define Falo para a mulher como “medo de deixar de ser amada’. O histérico resolve esta questão representando seu personagem assexuado, como uma criança pura e perfeita, obtendo assim o amor eterno de sua mãe “madona’.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Sim/Não
Sim e não.
Duas pequenas palavras que resumem de certa forma toda angustia do homem.
Duas palavras presentes em nossas vidas psíquicas, feito uma balança, onde ora estou no “sim”, ora estou no desagradável “não”.
Como é difícil escutar o “não”.
Uma parte minha se contorce de dor toda vez que sinto esta sensação.
“Não” é igual a impotência. Recusa. Falta.
“Sim” já é algo prazeroso que nos coloca em uma posição confortável, nos fazendo sentir potentes, capazes, fodões, etc.
Quando estamos no “sim”, tudo é lindo, maravilhoso. Aqui é onde sinto todo meu potencial, chegando às vezes a crer que de fato sou um super homem.
Nesse lugar, não existe a inveja, a dor de cotovelo, o olho gordo, etc. Nada disso cabe nesse lugar tão prazeroso.
Do “sim”, eu posso ver um montão de “não” a minha volta, continuando a ficar numa boa nesse lugar bacanérrimo. O “não” dos outros não me abala. Pelo contrario, se estou no “sim” e outra pessoa no “não”, posso até sentir aquele gostinho de vitoria. Vencer, ser melhor, mais forte, mais poderoso;
Sabe aquela cena onde o Di Caprio segura a garota sentindo o vento nos cabelos no topo do Titanic? Acho que o “sim” é um pouco esse lugar.
Um lugar necessário para desenvolvermos nossos potenciais criativos, vivendo nossas conquistas, nossas vitorias, etc.
O problema é o “não”, sentido na maioria das vezes de forma amarga.
O “não” que aponta para nossa impotência diante da vida, dos limites. “Não” de não dá; não pode; não quero; não vai; NÂO É!!!!!!!
Não é não.
Até ai, podemos teorizar este “não”, entendendo que este limite nos segura junto a realidade, etc.; porém, como diz meu analista: explicação só é bom para quem explica.
Na pratica, estar no “não” é muito difícil, principalmente quando temos ao nosso redor alguém que percebemos estar no “sim”.
Quer exemplo? Muito bem, segura essa:
Duas pessoas que se matam de trabalhar na mesma equipe. Uma é promovida, a outra não. A sensação daquele que não recebeu a promoção é horrível. Num primeiro momento, a hipocrisia da humanidade:
“Ele mereceu. Estou feliz por ele, etc.”
Depois, aquela angustia começa a bater:
“Não sei se foi justo” – tentativa de sair desse lugar. “afinal de contas, eu sou tão bom quanto ele”
Luta contra a agonia: “Na verdade, eu sou melhor do que ele. Aquele FDP nem merecia”
O “Sim” do outro aponta para o meu “Não”
Podemos até fazer uma tabelinha para compreendermos melhor:
Sim = tudo de bom
Não = impotência
Situação boa = Eu no Sim / Outro no Sim
Situação boa = Eu no sim / Outro no não
Situação suportável = Eu no não / Outro no não
Situação insuportável = Eu no não / Outro no sim
Brincadeiras a parte, nesse lugar do “não”, cabe a inveja, a dor de perceber um ser cheio de limites, a dor de uma realidade muito diferente daquela fantasiada, a dor de se sentir um bosta, a dor de um monte de coisa, a dor de cotovelo, a dor daquilo que aponta para o contrario das nossas fantasias, etc.
Cabe tudo nesse lugar.
Hipocrisia a parte, viver no “não” é uma bosta, no entanto, não existe “sim” sem o “não”, e vice versa.
Parece que estamos numa longa e íngreme escada, onde sempre vai ter alguém num degrau acima do nosso. Alguém num lugar do “sim” enquanto eu o observo do “não”.
A boa noticia é que sempre podermos olhar para o degrau abaixo de nós, onde sempre haverá alguém no “não”, transformando então o meu lugar no “sim”.
Vivemos nessa eterna angustia, observando nossos limites e potencias de acordo com os outros “sim” e “não” acima ou abaixo de nós, flutuando entre um e outro, ora felizes, ora angustiados, alternado incessantemente este estado ilusório.
Estamos falando aqui de inveja, fraqueza, impotência, neurose, um monte de coisa chamada home/mulher. Seres neuróticos.
Somos felizes assim? Claro que somos, afinal, sempre existira um “não” abaixo de nós transformando nosso “não” em “sim”. É só não olhar para o degrau de cima que tudo fica bem.
Da pra não olhar?
Duas pequenas palavras que resumem de certa forma toda angustia do homem.
Duas palavras presentes em nossas vidas psíquicas, feito uma balança, onde ora estou no “sim”, ora estou no desagradável “não”.
Como é difícil escutar o “não”.
Uma parte minha se contorce de dor toda vez que sinto esta sensação.
“Não” é igual a impotência. Recusa. Falta.
“Sim” já é algo prazeroso que nos coloca em uma posição confortável, nos fazendo sentir potentes, capazes, fodões, etc.
Quando estamos no “sim”, tudo é lindo, maravilhoso. Aqui é onde sinto todo meu potencial, chegando às vezes a crer que de fato sou um super homem.
Nesse lugar, não existe a inveja, a dor de cotovelo, o olho gordo, etc. Nada disso cabe nesse lugar tão prazeroso.
Do “sim”, eu posso ver um montão de “não” a minha volta, continuando a ficar numa boa nesse lugar bacanérrimo. O “não” dos outros não me abala. Pelo contrario, se estou no “sim” e outra pessoa no “não”, posso até sentir aquele gostinho de vitoria. Vencer, ser melhor, mais forte, mais poderoso;
Sabe aquela cena onde o Di Caprio segura a garota sentindo o vento nos cabelos no topo do Titanic? Acho que o “sim” é um pouco esse lugar.
Um lugar necessário para desenvolvermos nossos potenciais criativos, vivendo nossas conquistas, nossas vitorias, etc.
O problema é o “não”, sentido na maioria das vezes de forma amarga.
O “não” que aponta para nossa impotência diante da vida, dos limites. “Não” de não dá; não pode; não quero; não vai; NÂO É!!!!!!!
Não é não.
Até ai, podemos teorizar este “não”, entendendo que este limite nos segura junto a realidade, etc.; porém, como diz meu analista: explicação só é bom para quem explica.
Na pratica, estar no “não” é muito difícil, principalmente quando temos ao nosso redor alguém que percebemos estar no “sim”.
Quer exemplo? Muito bem, segura essa:
Duas pessoas que se matam de trabalhar na mesma equipe. Uma é promovida, a outra não. A sensação daquele que não recebeu a promoção é horrível. Num primeiro momento, a hipocrisia da humanidade:
“Ele mereceu. Estou feliz por ele, etc.”
Depois, aquela angustia começa a bater:
“Não sei se foi justo” – tentativa de sair desse lugar. “afinal de contas, eu sou tão bom quanto ele”
Luta contra a agonia: “Na verdade, eu sou melhor do que ele. Aquele FDP nem merecia”
O “Sim” do outro aponta para o meu “Não”
Podemos até fazer uma tabelinha para compreendermos melhor:
Sim = tudo de bom
Não = impotência
Situação boa = Eu no Sim / Outro no Sim
Situação boa = Eu no sim / Outro no não
Situação suportável = Eu no não / Outro no não
Situação insuportável = Eu no não / Outro no sim
Brincadeiras a parte, nesse lugar do “não”, cabe a inveja, a dor de perceber um ser cheio de limites, a dor de uma realidade muito diferente daquela fantasiada, a dor de se sentir um bosta, a dor de um monte de coisa, a dor de cotovelo, a dor daquilo que aponta para o contrario das nossas fantasias, etc.
Cabe tudo nesse lugar.
Hipocrisia a parte, viver no “não” é uma bosta, no entanto, não existe “sim” sem o “não”, e vice versa.
Parece que estamos numa longa e íngreme escada, onde sempre vai ter alguém num degrau acima do nosso. Alguém num lugar do “sim” enquanto eu o observo do “não”.
A boa noticia é que sempre podermos olhar para o degrau abaixo de nós, onde sempre haverá alguém no “não”, transformando então o meu lugar no “sim”.
Vivemos nessa eterna angustia, observando nossos limites e potencias de acordo com os outros “sim” e “não” acima ou abaixo de nós, flutuando entre um e outro, ora felizes, ora angustiados, alternado incessantemente este estado ilusório.
Estamos falando aqui de inveja, fraqueza, impotência, neurose, um monte de coisa chamada home/mulher. Seres neuróticos.
Somos felizes assim? Claro que somos, afinal, sempre existira um “não” abaixo de nós transformando nosso “não” em “sim”. É só não olhar para o degrau de cima que tudo fica bem.
Da pra não olhar?
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Meu velho e querido Chico
É engraçado como surpresas ocorrem em nossas vidas, quando menos esperamos. Toda sexta feira eu me divirto com alguns velhos amigos, alugando um estúdio e ensaiando com nossa bandavelhos hits dos anos 80.
Ontem, curiosamente chegamos diante do estúdio, e nada.
Portas fechadas.
Parece que a falta de comunicação entre a banda e o dono do estúdio, causou grande frustração em todos nós. Não tivemos ensaio.
Ficamos algum tempo elaborando a situação, até finalmente decidirmos fazer alguma coisa de útil, ao invés de ficarmos plantados na calçada, cercado por travestis que circundam a avenida Indianópolis.
- Vamos em algum barzinho comer alguma coisa – Disse um deles.
Confesso que eu e minha mulher estávamos cansados, mais propensos em voltar para casa e nos largarmos diante da TV com nossos gatinhos.
Mas de repente, surgiu na minha cabeça um certo lugar que há algum tempo havia despertado minha curiosidade. Uma certa pizzaria totalmente bairrista, no centro do meu querido bairro planalto paulista.
Logo, eu acabei sugerindo este lugar, na verdade por um bom motivo:
Escutara há algum tempo atrás, através de outra pessoa, que alguns amigos que não via há muito, colegas de um velho bar no meio do planalto, infelizmente extinto, conhecido pelo nome de seu velho e querido proprietário Diogo, freqüentavam esta pizzaria.
Daí, meu desejo em ir até lá na esperança de encontrar alguns destes velhos amigos, em especial o querido e bom Chico.
Não dá pra falar do Chico sem citar o que era o velho bar da Paula, ou melhor, o bar do Diogo.
Um senhor italiano forte, rabugento e maravilhoso que possuía um bar com grades fechadas em meio ao Planalto.
Somente conhecidos é quem podiam entrar.
Desconhecidos no bar, só com uma boa carta de apresentação.
Sua única garçonete, a Paula, que na verdade não se chamava Paula, mas poucos sabiam disso, era bastante desbocada, brincalhona, e com alguma idade avançada.
A Maria, cozinheira do lugar, também de idade, passava as noites fazendo seus deliciosos pasteis, e assistindo a novela ao lado do Diogo.
E assim, o querido e velho bar do Diogo abrigou inúmeros moradores da região, inclusive eu, durante anos. Reduto de amigos diversos que se divertiam com aquele trio inesquecível e atrapalhado.
Passei a freqüentar o Diogo em 1988 com alguns amigos, e diria que não deixei mais de ir até a morte de um deles, meu querido companheiro de boteco, talvez o único que de fato curtia de verdade o bar da Paula, como chamávamos, meu saudoso Titi.
Mas onde entra o Chico nisso tudo? Pois bem...
No inicio dos anos 80, eu e o Titi fundamos o Mephisto, nossa banda de heavy metal que infelizmente, contrariando todos os nossos planos, não se tornou tão famosa quanto o Iron Maiden, assim como acreditávamos que um dia se tornaria.
Começamos a compor nossas próprias músicas, até que um belo dia, o Denis, nosso vocalista comentou sobre um certo amigo seu que escrevia muitas letras, poemas, etc.
Lá fui eu e o Denis visitar seu colega, em busca de letras para musicarmos.
Conheci o Chico desta maneira.
O cara recitando um monte de letras românticas, brincando e fazendo piadas, irreverente e simpático, nos recebendo de braços abertos.
A banda terminou antes que pudéssemos de fato usar uma de suas letras, e nunca mais encontrei aquele cara divertido e criativo.
Pois bem, voltando ao bar da Paula em 1988, lá estava o Chico.
Relembramos o passado, e durante todos aqueles anos posteriores regados a pastel e cerveja, nos tornamos amigos. E através deles, novos e bons amigos surgiram.
Lembro-me dele me chamar de “garotinho’, sempre me chamando pra sentar-se à mesa dele, mesmo que estivesse esperando alguém.
Uma pessoa calorosa e amiga.
Presenciei momentos duros em sua vida e momentos alegres, como por exemplo, seu casamento.
Após alguns anos freqüentando o velho e bom bar do Diogo na companhia de amigos maravilhosos, uma tragédia tomou conta da minha vida. A morte inesperada do meu querido e bom companheiro Titi.
Deixei de aparecer no bar do Diogo durante um tempo, devido à dor daquela perda.
Aquele bar talvez tenha sido o lugar que eu e o Titi mais freqüentamos juntos, trocando idéias, filosofando sobre a vida, etc, e após sua morte, precisei de um tempo para conseguir voltar ao velho reduto.
Certo dia, quando finalmente resolvi retornar ao bar do Diogo, pronto para reencontrar amigos como o Chico, a Paula, o Diogo e a Maria, me deparei com as portas fechadas. E logo numa sexta feira.
Ainda me lembro quando o guarda da rua disse:
- O bar fechou há alguns meses com a morte do velho.
Voltei pra casa abalado.
Nova perda.
Um capítulo da minha vida ia junto com aquele bar.
Lembro-me naquele momento, de ter pensado no velho amigo Chico.
Depois de quase dez anos tomando cerveja juntos, eu não tinha um contato seu.
Sabia que morava no Planalto, mas não exatamente onde.
O tempo passou, até a noticia recente de que algumas destas pessoas, freqüentadores do extinto bar do Diogo, continuavam a se encontrar nesta pizzaria no centro do Planalto Paulista.
De cara, pensei no Chico. Quem sabe ele estaria por lá.
E assim, ontem, ao entrar na Pizzaria acompanhado pela minha mulher e meus amigos, quem é que eu vejo logo de cara?
Meu querido amigo Chico.
Confesso que me emocionei ao reencontrá-lo, e sei que foi recíproco.
O abraço que ele me deu foi tão forte e carinhoso, que naquele momento, percebi que tanto eu, como ele, reencontrava lembranças adormecidas.
Um reencontro do garotinho com o amigo mais velho.
Um reencontro com o bar da Paula, o Diogo, a Maria, o André, o Titi e tantos outros que se divertiram e choraram durante anos e anos, numa segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo, em meio à cerveja e pastel.
O velho e bom Chico esta de volta, e agora, sei onde encontrá-lo.
Um maravilhoso capítulo da minha historia de vida, esta gravada na pessoa do Chico, e posso dizer que ontem, eu reencontrei algo que estava em algum lugar no meu coração, escondido há muito, aguardando o momento feliz do reencontro.
O velho e querido Chico.
Ontem, curiosamente chegamos diante do estúdio, e nada.
Portas fechadas.
Parece que a falta de comunicação entre a banda e o dono do estúdio, causou grande frustração em todos nós. Não tivemos ensaio.
Ficamos algum tempo elaborando a situação, até finalmente decidirmos fazer alguma coisa de útil, ao invés de ficarmos plantados na calçada, cercado por travestis que circundam a avenida Indianópolis.
- Vamos em algum barzinho comer alguma coisa – Disse um deles.
Confesso que eu e minha mulher estávamos cansados, mais propensos em voltar para casa e nos largarmos diante da TV com nossos gatinhos.
Mas de repente, surgiu na minha cabeça um certo lugar que há algum tempo havia despertado minha curiosidade. Uma certa pizzaria totalmente bairrista, no centro do meu querido bairro planalto paulista.
Logo, eu acabei sugerindo este lugar, na verdade por um bom motivo:
Escutara há algum tempo atrás, através de outra pessoa, que alguns amigos que não via há muito, colegas de um velho bar no meio do planalto, infelizmente extinto, conhecido pelo nome de seu velho e querido proprietário Diogo, freqüentavam esta pizzaria.
Daí, meu desejo em ir até lá na esperança de encontrar alguns destes velhos amigos, em especial o querido e bom Chico.
Não dá pra falar do Chico sem citar o que era o velho bar da Paula, ou melhor, o bar do Diogo.
Um senhor italiano forte, rabugento e maravilhoso que possuía um bar com grades fechadas em meio ao Planalto.
Somente conhecidos é quem podiam entrar.
Desconhecidos no bar, só com uma boa carta de apresentação.
Sua única garçonete, a Paula, que na verdade não se chamava Paula, mas poucos sabiam disso, era bastante desbocada, brincalhona, e com alguma idade avançada.
A Maria, cozinheira do lugar, também de idade, passava as noites fazendo seus deliciosos pasteis, e assistindo a novela ao lado do Diogo.
E assim, o querido e velho bar do Diogo abrigou inúmeros moradores da região, inclusive eu, durante anos. Reduto de amigos diversos que se divertiam com aquele trio inesquecível e atrapalhado.
Passei a freqüentar o Diogo em 1988 com alguns amigos, e diria que não deixei mais de ir até a morte de um deles, meu querido companheiro de boteco, talvez o único que de fato curtia de verdade o bar da Paula, como chamávamos, meu saudoso Titi.
Mas onde entra o Chico nisso tudo? Pois bem...
No inicio dos anos 80, eu e o Titi fundamos o Mephisto, nossa banda de heavy metal que infelizmente, contrariando todos os nossos planos, não se tornou tão famosa quanto o Iron Maiden, assim como acreditávamos que um dia se tornaria.
Começamos a compor nossas próprias músicas, até que um belo dia, o Denis, nosso vocalista comentou sobre um certo amigo seu que escrevia muitas letras, poemas, etc.
Lá fui eu e o Denis visitar seu colega, em busca de letras para musicarmos.
Conheci o Chico desta maneira.
O cara recitando um monte de letras românticas, brincando e fazendo piadas, irreverente e simpático, nos recebendo de braços abertos.
A banda terminou antes que pudéssemos de fato usar uma de suas letras, e nunca mais encontrei aquele cara divertido e criativo.
Pois bem, voltando ao bar da Paula em 1988, lá estava o Chico.
Relembramos o passado, e durante todos aqueles anos posteriores regados a pastel e cerveja, nos tornamos amigos. E através deles, novos e bons amigos surgiram.
Lembro-me dele me chamar de “garotinho’, sempre me chamando pra sentar-se à mesa dele, mesmo que estivesse esperando alguém.
Uma pessoa calorosa e amiga.
Presenciei momentos duros em sua vida e momentos alegres, como por exemplo, seu casamento.
Após alguns anos freqüentando o velho e bom bar do Diogo na companhia de amigos maravilhosos, uma tragédia tomou conta da minha vida. A morte inesperada do meu querido e bom companheiro Titi.
Deixei de aparecer no bar do Diogo durante um tempo, devido à dor daquela perda.
Aquele bar talvez tenha sido o lugar que eu e o Titi mais freqüentamos juntos, trocando idéias, filosofando sobre a vida, etc, e após sua morte, precisei de um tempo para conseguir voltar ao velho reduto.
Certo dia, quando finalmente resolvi retornar ao bar do Diogo, pronto para reencontrar amigos como o Chico, a Paula, o Diogo e a Maria, me deparei com as portas fechadas. E logo numa sexta feira.
Ainda me lembro quando o guarda da rua disse:
- O bar fechou há alguns meses com a morte do velho.
Voltei pra casa abalado.
Nova perda.
Um capítulo da minha vida ia junto com aquele bar.
Lembro-me naquele momento, de ter pensado no velho amigo Chico.
Depois de quase dez anos tomando cerveja juntos, eu não tinha um contato seu.
Sabia que morava no Planalto, mas não exatamente onde.
O tempo passou, até a noticia recente de que algumas destas pessoas, freqüentadores do extinto bar do Diogo, continuavam a se encontrar nesta pizzaria no centro do Planalto Paulista.
De cara, pensei no Chico. Quem sabe ele estaria por lá.
E assim, ontem, ao entrar na Pizzaria acompanhado pela minha mulher e meus amigos, quem é que eu vejo logo de cara?
Meu querido amigo Chico.
Confesso que me emocionei ao reencontrá-lo, e sei que foi recíproco.
O abraço que ele me deu foi tão forte e carinhoso, que naquele momento, percebi que tanto eu, como ele, reencontrava lembranças adormecidas.
Um reencontro do garotinho com o amigo mais velho.
Um reencontro com o bar da Paula, o Diogo, a Maria, o André, o Titi e tantos outros que se divertiram e choraram durante anos e anos, numa segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo, em meio à cerveja e pastel.
O velho e bom Chico esta de volta, e agora, sei onde encontrá-lo.
Um maravilhoso capítulo da minha historia de vida, esta gravada na pessoa do Chico, e posso dizer que ontem, eu reencontrei algo que estava em algum lugar no meu coração, escondido há muito, aguardando o momento feliz do reencontro.
O velho e querido Chico.
segunda-feira, 15 de março de 2010
A mulher humilde
Certa vez, durante uma sessão analitica, uma mulher virou-se para seu terapeuta dizendo:
- Na vida, é preciso ser humilde!
Em seu discurso de aproximadamente 40 minutos, defendeu sua opinião demonstrando muita severidade e braveza.
Após alguns minutos de tregua, citando uma frase de um grande pensador, o terapeuta lhe respondeu:
- O cúmulo da humildade é se achar humilde.
Silêncio geral.
A mulher permaneceu calada, indo embora um pouco mais irritada.
- Na vida, é preciso ser humilde!
Em seu discurso de aproximadamente 40 minutos, defendeu sua opinião demonstrando muita severidade e braveza.
Após alguns minutos de tregua, citando uma frase de um grande pensador, o terapeuta lhe respondeu:
- O cúmulo da humildade é se achar humilde.
Silêncio geral.
A mulher permaneceu calada, indo embora um pouco mais irritada.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Quem é você?
Esta semana, durante um encontro com um amigo, filosofamos durante um bom tempo sobre o real significado daquilo que realmente somos.
Depois de um bom tempo, consegui limpar um monte de informações sobre a maneira como eu me descrevia, conseguindo enfim identificar aquilo que realmente é meu.
Acredite, parece simples, mas não é.
Parece que aquilo que somos, esta diretamente ligado aquilo que fazemos.
Porem, “ser” e “fazer” são coisas muito distintas.
Diante de um questionamento destes, nosso currículo impresso na memória dispara fazendo com que respostas imediatas saiam de nossas bocas como se estivéssemos querendo impressionar o mundo, ou melhor, impressionar a nós mesmos.
Será que é por isso que partimos tanto do “fazer”, tentando se convencer de que este somos nós de fato?
Claro que o “fazer” é importante, desde que tenhamos plena consciência do motivo pelo qual buscamos este “fazer”.
Porém, porque é que buscamos tanto o “fazer”? Para sermos algo? Para ser o que exatamente?
Começa aí um jogo perigoso onde nos aproximamos de uma consciência maior daquilo que buscamos, e que nem sempre é condizente com aquilo que acreditamos.
Mas a pergunta aqui é: Quem é você?
Será que somos advogados, psicanalistas, administradores, publicitários, etc, ou seria mais claro dizer que “estou psicanalista, estou advogado, estou publicitário, etc”?
Quando penso desta forma “estou psicanalista”, uma sensação de liberdade parece surgir, dando a possibilidade de que eu possa de fato “ser”, sem que precise criar uma cisão, dividindo o escritor do psicanalista, do empreendedor, etc.
Eu sou o Sergio, e estou escrevendo, atendendo, etc...agora.
Novamente a confusão entre o “fazer” e o “ser”.
Se colocarmos uma interrogação em nossas afirmações, a coisa fica ainda mais intrigante. Exemplo:
Eu sou psicanalista.
Eu sou psicanalista?
O que é ser psicanalista?
Descreva um psicanalista
R: Alguém que cuida do processo inconsciente, etc,... – Bom, acabamos de descrever a atividade do profissional psicanalista.
No entanto, poderia descrever o homem que esta naquele momento psicanalista.
Descrever o ser, o homem/mulher, nos liberta daquilo que fazemos, distinguindo aquilo que somos.
O homem/mulher esta psicanalista. Em outro momento, esta desenhista. Em outro momento, está escritor, etc.
Da uma sensação de liberdade onde podemos exercer aquilo que gostamos, fazemos, etc, preservando aquilo que realmente somos – um único ser.
Muitas vezes corremos atrás do “fazer”, buscando algo que amenize nossa angustia.
Não somos aquilo que fazemos. São coisas bem distintas.
Nossas atividades apontam para aquilo que necessitamos, mas não representam aquilo que de fato somos.
Um exemplo: Eu posso ter quinhentos MBA, buscando um destaque profissional, descobrindo um dia que esta busca foi somente para amenizar minha sensação de insegurança, um vazio.
A questão não é ter ou não MBA, mas é buscar a consciência do real motivo pelo qual buscamos tanto “fazer” em nossas vidas.
Ao mesmo tempo, nem todo “fazer” significa algo que aponte para uma insegurança.
Acontece que o “fazer’, esta diretamente ligado ao desejo de “ser” algo especial, quem sabe ter um grande falo que nos diga de fato que somos fortes, somos especiais, etc.
O desejo de “ser” demanda um grande “fazer”.
Nossas atitudes e realizações nos apontam para aquilo que desejamos, sendo bastante distinto daquilo que realmente somos.
Muitas figuras aparentemente poderosas, de fato revelaram-se pessoas inseguras e temerosas.
Depois de tanta filosofia com meu amigo, finalmente consegui dizer um pouco sobre minha pessoa, e entender um pouco sobre esta diferença, percebendo como deixamos esquecido em algum lugar de nossas mentes, a descrição daquilo que realmente somos.
O “fazer” parece ocultar nossa descrição e percepção daquilo que somos de fato.
Gostaria então de compartilhar com vocês, um breve currículo meu bastante diferente daqueles que sempre pensei em escrever.
Nome: Sergio
43 anos, casado, amante de filmes de aventura, adora ler, passear em livrarias, adora o bairro da liberdade por lembrar sua infância, nostálgico, dramático, cheio de medos, muitas vezes desejoso do colo da mãe, apaixonado por animais, pai de quatro gatinhos, apaixonado pela esposa, adora ultraman e ultraseven, ama de paixão toda saga dos filmes com Indiana Jones e Star Wars, adora escrever e conversar com pessoas, desenhar cenas de filmes, finais de semana, musica, cds do Pat Metheny, minha família de amigos, desenhos e animação, saudoso de amigos que vivem no exterior, muitas vezes invejoso, odeia ser contrariado, adora ser o centro das atenções, etc.
Isso é quem eu sou.
Na minha descrição não existe passado, nem presente, nem futuro.
Isso está pronto.
Sou eu.
Poderia falar sobre o Sergio profissional, mas de fato, não interessa muito.
Quem é você?
Até mais ver
Depois de um bom tempo, consegui limpar um monte de informações sobre a maneira como eu me descrevia, conseguindo enfim identificar aquilo que realmente é meu.
Acredite, parece simples, mas não é.
Parece que aquilo que somos, esta diretamente ligado aquilo que fazemos.
Porem, “ser” e “fazer” são coisas muito distintas.
Diante de um questionamento destes, nosso currículo impresso na memória dispara fazendo com que respostas imediatas saiam de nossas bocas como se estivéssemos querendo impressionar o mundo, ou melhor, impressionar a nós mesmos.
Será que é por isso que partimos tanto do “fazer”, tentando se convencer de que este somos nós de fato?
Claro que o “fazer” é importante, desde que tenhamos plena consciência do motivo pelo qual buscamos este “fazer”.
Porém, porque é que buscamos tanto o “fazer”? Para sermos algo? Para ser o que exatamente?
Começa aí um jogo perigoso onde nos aproximamos de uma consciência maior daquilo que buscamos, e que nem sempre é condizente com aquilo que acreditamos.
Mas a pergunta aqui é: Quem é você?
Será que somos advogados, psicanalistas, administradores, publicitários, etc, ou seria mais claro dizer que “estou psicanalista, estou advogado, estou publicitário, etc”?
Quando penso desta forma “estou psicanalista”, uma sensação de liberdade parece surgir, dando a possibilidade de que eu possa de fato “ser”, sem que precise criar uma cisão, dividindo o escritor do psicanalista, do empreendedor, etc.
Eu sou o Sergio, e estou escrevendo, atendendo, etc...agora.
Novamente a confusão entre o “fazer” e o “ser”.
Se colocarmos uma interrogação em nossas afirmações, a coisa fica ainda mais intrigante. Exemplo:
Eu sou psicanalista.
Eu sou psicanalista?
O que é ser psicanalista?
Descreva um psicanalista
R: Alguém que cuida do processo inconsciente, etc,... – Bom, acabamos de descrever a atividade do profissional psicanalista.
No entanto, poderia descrever o homem que esta naquele momento psicanalista.
Descrever o ser, o homem/mulher, nos liberta daquilo que fazemos, distinguindo aquilo que somos.
O homem/mulher esta psicanalista. Em outro momento, esta desenhista. Em outro momento, está escritor, etc.
Da uma sensação de liberdade onde podemos exercer aquilo que gostamos, fazemos, etc, preservando aquilo que realmente somos – um único ser.
Muitas vezes corremos atrás do “fazer”, buscando algo que amenize nossa angustia.
Não somos aquilo que fazemos. São coisas bem distintas.
Nossas atividades apontam para aquilo que necessitamos, mas não representam aquilo que de fato somos.
Um exemplo: Eu posso ter quinhentos MBA, buscando um destaque profissional, descobrindo um dia que esta busca foi somente para amenizar minha sensação de insegurança, um vazio.
A questão não é ter ou não MBA, mas é buscar a consciência do real motivo pelo qual buscamos tanto “fazer” em nossas vidas.
Ao mesmo tempo, nem todo “fazer” significa algo que aponte para uma insegurança.
Acontece que o “fazer’, esta diretamente ligado ao desejo de “ser” algo especial, quem sabe ter um grande falo que nos diga de fato que somos fortes, somos especiais, etc.
O desejo de “ser” demanda um grande “fazer”.
Nossas atitudes e realizações nos apontam para aquilo que desejamos, sendo bastante distinto daquilo que realmente somos.
Muitas figuras aparentemente poderosas, de fato revelaram-se pessoas inseguras e temerosas.
Depois de tanta filosofia com meu amigo, finalmente consegui dizer um pouco sobre minha pessoa, e entender um pouco sobre esta diferença, percebendo como deixamos esquecido em algum lugar de nossas mentes, a descrição daquilo que realmente somos.
O “fazer” parece ocultar nossa descrição e percepção daquilo que somos de fato.
Gostaria então de compartilhar com vocês, um breve currículo meu bastante diferente daqueles que sempre pensei em escrever.
Nome: Sergio
43 anos, casado, amante de filmes de aventura, adora ler, passear em livrarias, adora o bairro da liberdade por lembrar sua infância, nostálgico, dramático, cheio de medos, muitas vezes desejoso do colo da mãe, apaixonado por animais, pai de quatro gatinhos, apaixonado pela esposa, adora ultraman e ultraseven, ama de paixão toda saga dos filmes com Indiana Jones e Star Wars, adora escrever e conversar com pessoas, desenhar cenas de filmes, finais de semana, musica, cds do Pat Metheny, minha família de amigos, desenhos e animação, saudoso de amigos que vivem no exterior, muitas vezes invejoso, odeia ser contrariado, adora ser o centro das atenções, etc.
Isso é quem eu sou.
Na minha descrição não existe passado, nem presente, nem futuro.
Isso está pronto.
Sou eu.
Poderia falar sobre o Sergio profissional, mas de fato, não interessa muito.
Quem é você?
Até mais ver
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
A dor necessária
Outro dia observei um caso de uma pessoa passando por sérios conflitos familiares que parecem refletir, na minha opinião, uma de nossas maiores fontes de angustia.
Somente para ilustrar, vou descrever resumidamente o caso de uma pessoa que, em meio a conflitos familiares, acabou sofrendo bastante diante de um desfecho contrário aos seus desejos.
Não que isso seja algo de outro mundo, afinal, nem tudo na vida acontece como gostaríamos, e tenho a certeza de que isso, ela também sabe.
No entanto, diante dos conflitos apresentados por ela, me chamou a atenção o modo como parecia exigir da vida um final feliz da forma como ela havia idealizado, desejado, e tornado este desejo, única opção imaginável para o conflito.
Parecia latente uma angustia crescente proveniente do desejo de querer poder controlar as pessoas e a situação, resolvendo de vez o impasse. Resolvendo para sempre a guerra e obtendo um final feliz...para ela mesma, permitindo que as estruturas familiares mantenham-se firmes, mesmo que rachadas. Afinal de contas, este é o seu papel. Manter as estruturas intactas custe o que custar. Papel este heróico e muitas vezes não reconhecido.
Angustia crescente diante dos acontecimentos contrários ao seu desejo.
No final, infelizmente as coisas pioraram, e esta pessoa acabou se machucando mais do que esperava.
Com certeza, se machucou muito ao ser obrigada a se deparar com a realidade versus a sua fantasia no que tange a situação descrita.
Na minha opinião, o mais doloroso para esta pessoa foi sentir a perda de algo que parecia ser a base de seu estrutura. Sua fantasia de controle.
A ilusão de um poder, e com ele, o surgimento da percepção da impotência diante do desejo do outro.
A impotência que discuto aqui não é somente aquela diante de certos fatos da vida como doenças, catástrofes, etc, mas principalmente aquela ligada a nossa fantasia de controle. Nosso desejo acima do desejo do outro.
Nosso desejo acima dos acontecimentos da vida.
A perda de uma fantasia é algo dolorido. No entanto, a realidade nos mostra que nosso equilíbrio é criado a partir da junção da fantasia e da realidade.
Da potência e da impotência.
Claro que somos seres potentes. Dentro da realidade. Uma potência real e necessária para nossa evolução existencial.
Uma potencia que nos empurra em direção a realização de nossos desejos e sonhos, tornado-os reais na medida do possível.
Uma potencia que nos impulsiona no trabalho, na elaboração e execução de nossos planos, na busca do melhor segundo nossos critérios, etc.
Porém, me refiro aqui à fantasia de controle. Aquela que nos faz acreditar que podemos controlar aquilo que não é controlável.
Daí, nosso desejo passa a ser sentido como uma espécie de lei.
É preciso controlar a vida. Controlar evitando a dor, afastando assim qualquer percepção daquilo que possa nos machucar, nos contrariar, negando a percepção de impotência e colocando nosso desejo como única opção aceitável diante de fatos da vida.
Queremos por que queremos que uma determinada situação se resolva da forma como exigimos da vida, dos fatos, das pessoas, dos acontecimentos, e é esta potencia que é sempre destruída.
Destruída diante da percepção de impotência perante a realidade.
Impotência diante dos fatos que muitas vezes se desenrolam de forma contrária ao nosso desejo.
Surge a dor. A desilusão.
Todo esforço em querer ser potente é sentido como a perda de uma grande batalha.
Cansaço físico e mental.
Tentar controlar tudo e todos cansa.
Um oceano impossível de se atravessar.
Depressão.
A dor e o desespero em se perceber diante de algo cujo controle não esta, nem nunca esteve, em nossas mãos.
Aos poucos, a realidade começa a surgir como algo suave, mostrando que ser impotente é bom. Aliás, é muito bom.
Saber ser impotente é um aprendizado.
É perceber que existe um Outro ao seu lado que sente, ama, odeia, pensa, e assim como você, muitas vezes tentará impor sua realidade perante os outros, percebendo-se no final, impotente.
Ser impotente é deixar o fluxo da vida fluir livremente.
É respeitar as opiniões e decisões alheias.
É saber de fato seu limite diante da vida.
Ser impotente é muitas vezes, descansar com sabedoria.
É relaxar e deixar que a vida continue, procurando entendê-la de fato com serenidade.
É deixar de querer mudar os outros, percebendo então que não somos donos da verdade.
É sentir a tranqüilidade diante da percepção de não poder fazer nada além de seus limites.
A impotência como forma de realidade, juntamente com a potencia existente em cada um de nós é a junção perfeita para nosso equilíbrio.
Duas faces de uma mesma moeda. Necessária.
Duas faces que ajudam a perceber a aceitar nossos sonhos, fantasias e desejos, como únicos e exclusivamente nossos.
Reconhecer-se como um ser potente diante de certas coisas, e impotente diante de outras, é procurar viver em paz, lidando com a realidade e a fantasia mais sadia, menos pesada, menos frustrante, menos dolorosa.
Parece que passamos a maior parte do tempo tentando dizer o que o outro deve fazer, deve vestir, deve pensar, projetando em nossos filhos nossos desejos, nossas fantasias, na esperança de que eles dêem continuidade a nossa percepção de potencia, vivendo através deles nossa fantasia de controle, tudo isso disfarçado de “bons conselhos”.
Tudo isso cansa.
Querer controlar cansa.Ter poder cansa
E no final, muitas vezes na velhice, percebemos que nada disso existe.
Controlar o que mesmo?
O descanso vem com a percepção de que não controlamos nada além de nós mesmos.
E ainda assim, não conseguimos nem mesmo resolver nossos próprios problemas, controlar nossa própria vida, quanto mais a vida dos outros.
Uma coisa é querer que uma situação termine como gostaríamos. Outra coisa é aceitá-la da forma como terminou.
A impotência diante da vida torna-se uma sabedoria, assim como a potencia real, uma
benção a cada dia de vida, nos ajudando a superar os conflitos diários, seguindo adiante.
Até mais ver!
Somente para ilustrar, vou descrever resumidamente o caso de uma pessoa que, em meio a conflitos familiares, acabou sofrendo bastante diante de um desfecho contrário aos seus desejos.
Não que isso seja algo de outro mundo, afinal, nem tudo na vida acontece como gostaríamos, e tenho a certeza de que isso, ela também sabe.
No entanto, diante dos conflitos apresentados por ela, me chamou a atenção o modo como parecia exigir da vida um final feliz da forma como ela havia idealizado, desejado, e tornado este desejo, única opção imaginável para o conflito.
Parecia latente uma angustia crescente proveniente do desejo de querer poder controlar as pessoas e a situação, resolvendo de vez o impasse. Resolvendo para sempre a guerra e obtendo um final feliz...para ela mesma, permitindo que as estruturas familiares mantenham-se firmes, mesmo que rachadas. Afinal de contas, este é o seu papel. Manter as estruturas intactas custe o que custar. Papel este heróico e muitas vezes não reconhecido.
Angustia crescente diante dos acontecimentos contrários ao seu desejo.
No final, infelizmente as coisas pioraram, e esta pessoa acabou se machucando mais do que esperava.
Com certeza, se machucou muito ao ser obrigada a se deparar com a realidade versus a sua fantasia no que tange a situação descrita.
Na minha opinião, o mais doloroso para esta pessoa foi sentir a perda de algo que parecia ser a base de seu estrutura. Sua fantasia de controle.
A ilusão de um poder, e com ele, o surgimento da percepção da impotência diante do desejo do outro.
A impotência que discuto aqui não é somente aquela diante de certos fatos da vida como doenças, catástrofes, etc, mas principalmente aquela ligada a nossa fantasia de controle. Nosso desejo acima do desejo do outro.
Nosso desejo acima dos acontecimentos da vida.
A perda de uma fantasia é algo dolorido. No entanto, a realidade nos mostra que nosso equilíbrio é criado a partir da junção da fantasia e da realidade.
Da potência e da impotência.
Claro que somos seres potentes. Dentro da realidade. Uma potência real e necessária para nossa evolução existencial.
Uma potencia que nos empurra em direção a realização de nossos desejos e sonhos, tornado-os reais na medida do possível.
Uma potencia que nos impulsiona no trabalho, na elaboração e execução de nossos planos, na busca do melhor segundo nossos critérios, etc.
Porém, me refiro aqui à fantasia de controle. Aquela que nos faz acreditar que podemos controlar aquilo que não é controlável.
Daí, nosso desejo passa a ser sentido como uma espécie de lei.
É preciso controlar a vida. Controlar evitando a dor, afastando assim qualquer percepção daquilo que possa nos machucar, nos contrariar, negando a percepção de impotência e colocando nosso desejo como única opção aceitável diante de fatos da vida.
Queremos por que queremos que uma determinada situação se resolva da forma como exigimos da vida, dos fatos, das pessoas, dos acontecimentos, e é esta potencia que é sempre destruída.
Destruída diante da percepção de impotência perante a realidade.
Impotência diante dos fatos que muitas vezes se desenrolam de forma contrária ao nosso desejo.
Surge a dor. A desilusão.
Todo esforço em querer ser potente é sentido como a perda de uma grande batalha.
Cansaço físico e mental.
Tentar controlar tudo e todos cansa.
Um oceano impossível de se atravessar.
Depressão.
A dor e o desespero em se perceber diante de algo cujo controle não esta, nem nunca esteve, em nossas mãos.
Aos poucos, a realidade começa a surgir como algo suave, mostrando que ser impotente é bom. Aliás, é muito bom.
Saber ser impotente é um aprendizado.
É perceber que existe um Outro ao seu lado que sente, ama, odeia, pensa, e assim como você, muitas vezes tentará impor sua realidade perante os outros, percebendo-se no final, impotente.
Ser impotente é deixar o fluxo da vida fluir livremente.
É respeitar as opiniões e decisões alheias.
É saber de fato seu limite diante da vida.
Ser impotente é muitas vezes, descansar com sabedoria.
É relaxar e deixar que a vida continue, procurando entendê-la de fato com serenidade.
É deixar de querer mudar os outros, percebendo então que não somos donos da verdade.
É sentir a tranqüilidade diante da percepção de não poder fazer nada além de seus limites.
A impotência como forma de realidade, juntamente com a potencia existente em cada um de nós é a junção perfeita para nosso equilíbrio.
Duas faces de uma mesma moeda. Necessária.
Duas faces que ajudam a perceber a aceitar nossos sonhos, fantasias e desejos, como únicos e exclusivamente nossos.
Reconhecer-se como um ser potente diante de certas coisas, e impotente diante de outras, é procurar viver em paz, lidando com a realidade e a fantasia mais sadia, menos pesada, menos frustrante, menos dolorosa.
Parece que passamos a maior parte do tempo tentando dizer o que o outro deve fazer, deve vestir, deve pensar, projetando em nossos filhos nossos desejos, nossas fantasias, na esperança de que eles dêem continuidade a nossa percepção de potencia, vivendo através deles nossa fantasia de controle, tudo isso disfarçado de “bons conselhos”.
Tudo isso cansa.
Querer controlar cansa.Ter poder cansa
E no final, muitas vezes na velhice, percebemos que nada disso existe.
Controlar o que mesmo?
O descanso vem com a percepção de que não controlamos nada além de nós mesmos.
E ainda assim, não conseguimos nem mesmo resolver nossos próprios problemas, controlar nossa própria vida, quanto mais a vida dos outros.
Uma coisa é querer que uma situação termine como gostaríamos. Outra coisa é aceitá-la da forma como terminou.
A impotência diante da vida torna-se uma sabedoria, assim como a potencia real, uma
benção a cada dia de vida, nos ajudando a superar os conflitos diários, seguindo adiante.
Até mais ver!
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